Há muitos anos que concluo que não é só uma alimentação excessiva e o sedentarismo que levam ao aumento do peso corporal. Para além dos factores genéticos, de determinadas doenças, a toma de medicação e outras causas, também conduzem para que esta pandemia aumente todos os anos. No entanto, só agora é que os traumas (sejam eles quais forem), como mais uma causa associada ao excesso de peso e obesidade, é que começam a ganhar algum destaque e evidência na nossa Sociedade.
Durante anos achava estranho a existência do efeito ioiô, não percebia porque é que algumas pessoas perdiam peso, e semanas mais tarde voltavam a recuperá-lo. O cliente era o mesmo, o profissional que o acompanhava era o mesmo, a dieta era a mesma, a rotina do dia-a-dia era a mesma, ou seja, o estilo de vida era igual. Nada tinha sido mudado ou alterado durante 4, 5 ou 6 meses. A única mudança era o peso corporal que subia num mês, e noutro diminuía. Sem motivos aparentes e sem qualquer tipo de justificação.
Após vários anos a estudar cursos e formações em desenvolvimento pessoal e espiritual é que realmente percebi que as emoções contam, e muito, para quem tem como objectivo emagrecer. Na minha opinião, neste caminho da “eliminação” dos quilos a mais, temos que ter em conta com: 40% das experiências do passado do paciente, 30% o seu comportamento emocional, 10% o seu estado de stress e ansiedade, 10% o estilo de vida, e os últimos 10% a dieta alimentar diária.
Repara, experiências do passado latentes no (in)consciente da pessoa (com excesso de peso ou obesa) mal resolvidas promovem desequilíbrios emocionais constantes quando os detonantes são activados, com o consequente aumento dos níveis de stress, ansiedade, medo e de frustração que irão reflectir-se numa excessiva ingestão alimentar (compulsão alimentar), que por sua vez leva ao aumento do peso.
Lembra-te que o trauma subjacente (seja real, imaginário, simbólico ou virtual) pode já não ser visto como um evento incrivelmente dramático, como testemunhar uma morte, sofrer de um acidente grave, viver num país em guerra, ou mesmo sofrer de abuso sexual. Esse trauma pode ser causado pela morte de um animal de estimação, a ruptura difícil de uma relação ou um divórcio, ou a perda de um emprego, entre outras.
E então, a alimentação torna-se num refúgio, ou seja, serve para empoderar quem pensa não ter poder pessoal, nem capacidade de decidir e de fazer escolhas.
Resumindo, a comida só vai servir para “mascarar” e “alimentar” o trauma e “distrair” a pessoa de enfrentar os problemas e de os resolver. Para quem vive angustiado serve simplesmente para “acalmar”. Um bom exemplo é quando há uma ingestão excessiva de alimentos doces, ou seja, alimentos ricos em açúcar. O medo que alguma coisa não corra como o esperado leva, na maioria das pessoas, a comer alimentos doces. Como essa emoção costuma tirar a energia, é comum achar-se que, comer açúcar, vai dar mais energia. Infelizmente, essas doses de açúcar fornecem bastantes calorias. E quando não são gastas pelo organismo, são convertidas e armazenadas sob a forma de gordura (massa gorda) promovendo o aumento do peso.
A compulsão alimentar também pode ser encarada como uma resposta compensatória. Como de um mecanismo de protecção se tratasse. Isto é mais visível nas situações de abuso sexual, onde as pessoas, de forma inconsciente, começam a construir uma barreira, isto é, uma acumulação excessiva de gordura corporal para se protegerem. Podem tornar-se tão volumosas que se torna difícil o simples abraço ou mesmo sair de casa. Instintivamente, podem procurar ficar e parecer pouco atraentes para que nada, nem ninguém tente atacá-las. “Esconder” os órgãos sexuais sob uma camada de gordura pode ser visto como uma maneira de suprimir a perturbação causada pela violação vivida.
Com o passar do tempo, e sem que o paciente tenha noção, os comportamentos que inicialmente ofereciam uma “fuga”, protecção e tranquilidade ficam sem controlo. Por isso torna-se cada vez mais dependente da libertação de hormonas e de neurotransmissores no organismo que provêm da ingestão de quantidades cada vez maiores de alimentos. Sem perceber, de forma consciente, o porquê do seu aumento do peso e da detioração do seu estado de saúde, os ataques ao próprio corpo são contínuos, deixando muitas vezes sequelas irreversíveis, outras vezes podem inclusivamente levar à morte.
Várias são as abordagens terapêuticas que têm excelentes benefícios. O ideal, é que o profissional da alimentação tenha competências em várias técnicas, tais como: coaching, PNL (programação neurolinguística), hipnose clínica, desenvolvimento pessoal e espiritual, bem como siga uma filosofia mais holística. Sem descurar, da presença e da importância do médico assistente e de outros profissionais de saúde, da prática regular de exercício-físico e de ter um estilo de vida equilibrado.
Com a adopção de uma alimentação consciente e intuitiva e recorrendo a técnicas eficazes e eficientes há o compromisso de reduzir ou eliminar a intensidade e a duração, ou mesmo resignificar a situação traumática. Estas terapias têm um papel fundamental no tratamento do trauma, e é muito interessante porque o paciente em recuperação começa a experimentar mais emoções, que por sua vez despertam novos sentimentos. Logo as distracções e a desordem emocional começam a ser apaziguadas. Mesmo assim, durante este percurso é normal existirem “altos e baixos”, ou seja, o evento traumático e as emoções e os sentimentos associados ressurgirão. O que de certa forma podem assustá-lo, particularmente porque se anestesiou por muito tempo com comida. Na realidade o terapeuta coloca apenas alguma Luz no percurso, no entanto o caminho tem que ser sempre feito pelo paciente.
Com alguma frequência o paciente inicia gradualmente uma exposição a situações que se tornaram causadoras de ansiedade (os tais detonantes), criando assim uma imunidade à reacção excessiva e ao medo. A exposição pode ser real – como por exemplo, comer num espaço público, voltar a conduzir, falar com pessoas estranhas, colocar os seus alimentos preferidos à sua frente –, ou podem ser induzidos através da PNL, hipnose clínica, meditações e outras técnicas que utilizem os métodos de visualização. De qualquer forma, qualquer tipo de intervenção terapêutica requer a presença de profissionais especializados e habilitados para o efeito, para que a abordagem tenha uma continuidade em aumentar a exposição e a profundidade do processo de cura sem sobrecarregar a pessoa afectada ao ponto desta vir a sofrer de um retrocesso no seu processo de recuperação.
Os principais objectivos das terapias são retirar a importância e desarmar o poder do trauma na vida e no dia-a-dia do paciente. Em seguida, procurar que a pessoa mantenha um equilíbrio emocional e que saiba proteger-se sempre que surja uma situação detonante. Tranquilizar-se com técnicas e ferramentas saudáveis irão trazer mais e melhores resultados. Grande parte dos mecanismos de protecção podem advir da aprendizagem de como estabelecer limites pessoais claros (Eu sei o que quero e o que é melhor para mim neste momento). Apesar disso, no futuro, o paciente pode não ser capaz de evitar novos traumas é um facto, e ainda assim pode certamente evitar tornar-se uma vez mais numa vítima.
Todas as pessoas têm o direito de se proteger, mas primeiro precisam de saber do que é que se estão a proteger. Por exemplo, uma adolescente que foi abusada sexualmente pode pensar que todos os homens são maus, violentos e predadores, por isso ao longo da sua vida pode evitar qualquer tipo de contacto com pessoas do sexo masculino. Para aquela adolescente, que agora é uma mulher, evitar qualquer tipo de contacto é sinónimo de protecção, mas também é uma forma de pensar desequilibrada. Neste tipo de situações as mulheres devem aprender a reconhecer e a compreender que os homens que encontram no seu dia-a-dia não são aqueles que abusaram delas. Isto não significa que tenham que confiar em todos os homens, pelo contrário, devem criar e manter limites, e acima de tudo, manter uma vigilância constante e em determinadas situações. Depois, e com o decorrer do tempo, estas mulheres podem observar e sentir alguma segurança e confiança nos homens, e assim desenvolver uma maior aceitação e entrega nos relacionamentos.
Para toda e qualquer pessoa que seja uma sobrevivente de um trauma e que apresenta uma alimentação desequilibrada e/ou uma compulsão alimentar, encarar e tratar a dor, aceitar-se, estabelecer limites e fronteiras, e aprender novas técnicas, habilidades e ferramentas para enfrentar o trauma são passos cruciais na recuperação. Ignorar qualquer um dos factores anteriores coloca o paciente em risco de voltar a um caminho destrutivo, de abandono e de solidão na próxima vez que ocorrer uma situação stressante (surgir um detonante). Para que a recuperação seja sustentada no tempo é imprescindível também trabalhar a gratidão, a disciplina e a paciência, para que em cada etapa do seu percurso de vida, o paciente consiga dominar e controlar as suas emoções de uma forma harmoniosa e prazerosa.
Em apenas 3 minutos assiste aos vídeos (links seguintes) do Programa da TLC: MY 600Lb Life, Temporada 8, com as pacientes Joyce e Cindy onde é claro a associação dos traumas com o excesso de peso e obesidade.
MY 600Lb Life, Temporada 8 Episódio 7 – Terapia da Joyce (1)
MY 600Lb Life, Temporada 8 Episódio 7 – Terapia da Joyce com a mãe (2)
MY 600Lb Life, Temporada 8 Episódio 20 – Terapia da Cindy