Geralmente quando se fala em distúrbios ou em transtornos alimentares, a nossa mente remete logo para a anorexia e a bulimia nervosa. Mas existem outros problemas que estão relacionados com a alimentação e as bebidas, e que merecem uma especial atenção. Entre eles está a drunkorexia. Actualmente este é um distúrbio alimentar caracterizado pela ingestão de bebidas alcoólicas. No entanto, ainda não é considerada como uma doença segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A palavra drunkorexia provém da junção das palavras drunk (bêbado em inglês) e de anorexia (redução ou perda de apetite). Este distúrbio surge quando a pessoa está preocupada, de uma forma obsessiva, em não engordar, e então substitui a sua alimentação pela ingestão de álcool. Tem maior incidência em adolescentes do sexo feminino.
As bebidas alcoólicas são bastante calóricas. Assim, por exemplo, uma caneca grande de cerveja, um gin, uma margarita ou mesmo uma caipirinha têm quase tantas calorias que um pedaço de pizza. Tendo esta consciência muitas pessoas acabam por fazer esta substituição. Uma substituição bastante prejudicial para toda a saúde! Deixar de comer (algumas das refeições do dia) para ingerir bebidas alcoólicas principalmente nos dias de festas, feriados e aos fins-de-semana não é correcto. O problema é que a troca é apenas calórica, e não nutricional. Como já é bastante divulgado, eu volto a lembrar que a ingestão de álcool apenas comtempla calorias e não nutrientes. Assim, o organismo a curto e médio prazo pode vir a sofrer consequências mais graves devido à falta de nutrientes essenciais para o bom funcionamento do organismo.
Mas não se fica só por aqui, o álcool dá uma sensação de saciedade, ou pelos seus efeitos sedativos, dá sono… e corre-se o risco de ir dormir sem comer. Outros problemas que podem suceder são: hipoglicemias, anemia, desnutrição, doenças do fígado e do pâncreas, problemas mentais, desmaios, convulsões, cancro, etc. Para além de que a pessoa pode tornar-se adicta (sintomas de dependência) que a longo prazo traduzem-se em situações de maior ansiedade e depressões. Convém ainda recordar que um consumo excessivo de bebidas alcoólicas prejudica a digestão e a absorção dos nutrientes posteriormente.
Sabia que…
A anorexia tem maior prevalência entre os 12 e os 15 anos. Existe também um maior contacto com bebidas alcoólicas nesse período, logo as probabilidades de tornarem-se dependentes são ainda maiores. Um alerta para os que convivem com uma pessoa que pode estar a sofrer de drunkorexia é averiguar se diariamente apresenta um hálito a álcool.
Como foi referido anteriormente, o álcool é uma substância ao mesmo tempo sedativa e hipnótica. Por isso, uma pessoa ao beber consegue diminuir os seus níveis de ansiedade para que o seu foco de atenção não seja a alimentação. Além disso, a ingestão deste tipo de bebidas funciona também como gerador momentâneo de uma sensação de conforto e relaxamento. Uma “fuga” ideal para quem sofre de uma distorção da realidade.
Acredita-se também que uma ingestão abusiva de álcool está relacionada com questões emocionais mais profundas. Isto é, a bebida serve como compensador… uma espécie de “anestesia” para os momentos que não se consegue lidar com a tristeza ou a ansiedade.
Existe um estudo científico recente, e que foi publicado pela revista Eating Behaviors (em 2018), que analisou os comportamentos alimentares inadequados – tais como saltar refeições – e a relação com o aparecimento da drunkorexia numa população de aproximadamente 1000 adolescentes. Os resultados mostraram que o jejum e a procura pela sensação de embriaguez decorrentes do consumo excessivo de álcool foram preditores significativos para o aparecimento da drunkorexia na amostra de homens e mulheres. De acordo com o estudo, as adolescentes do sexo feminino procuram a bebida para sentir-se mais seguras, enquanto os adolescentes do sexo masculino para o controlo das suas emoções. O estudo sugere ainda que a alimentação quando é feita de uma maneira desequilibrada contribui de forma semelhante para o aparecimento da drunkorexia nos adolescentes (de ambos os sexos).
Sintomas
Por norma são os mesmos que os da anorexia e da bulimia nervosa: desnutrição, uma imagem corporal distorcida, perda de apetite, exercício-físico excessivo, indução dos vómitos, recurso a vários tipos de suplementos para emagrecer (como diuréticos, laxantes, inibidores de apetite, termogénicos, etc), preocupação obsessiva pela magreza.
Diagnóstico
É feito pelo médico após a confirmação dos sintomas. Os pais, os educadores, os amigos e colegas são fundamentais para a confirmação dos factos. Depois, o tratamento é multidisciplinar (ou seja, com o recurso a vários profissionais, tais como: médico(s), psicólogo, nutricionista, professor de educação física, enfermeiro, etc) porque é uma patologia extremamente delicada.
É sabido que muitos dos pacientes não admitem sofrer do distúrbio alimentar, uma vez que acham que conseguem lidar fortemente com todos os factores psicológicos que estão a passar. Nestes processos, aceitar o tratamento é o primeiro passo para o sucesso! No percurso da reabilitação todo o apoio familiar, dos amigos e dos profissionais é fundamental para reeducação dos doentes.
Um dos factores mais importante é aumentar a auto-estima do doente e lembrá-lo de que não existe um corpo perfeito! A obsessão de tentar encontrar o melhor corpo e as melhores emoções, faz com que deixemos de viver e de aproveitar todos os momentos e todas as experiências da nossa vida. A partir do momento que deixamos de pensar nisso de uma forma obsessiva, a vida fluirá naturalmente.
Bibliografia: