É comum encontrarmos muitas pessoas preocupadas com a qualidade da sua alimentação, procurando sempre informações e novidades sobre o tema, mas raramente encontramos pessoas que se preocupam com a sua mastigação.
Mastigar provém do latim, “masticare” que significa triturar os alimentos com os dentes.
Como parte do processo digestivo, é na boca que se inicia a digestão dos alimentos, principalmente dos alimentos ricos em amido. A salivação, originada pela mastigação, dá início a esse processo. Existe na saliva uma enzima digestiva (a ptialina ou amilase salivar) que actua nos hidratos de carbono, como por exemplo, nos cereais, pães, biscoitos, bolachas, etc. Com a presença desta enzima, a digestão destes alimentos é facilitada, uma vez que chegam pré-digeridos ao estômago.
Quando se fala na digestão de alimentos, a mastigação, por si mesma, já traz grandes benefícios, porque a trituração dos alimentos, feita pelos dentes, reduz os alimentos em fragmentos mais pequenos, o que aumenta a capacidade de acção das enzimas sobre estes fragmentos de alimentos (porque existe uma maior superfície de contacto). Qualquer que seja o alimento, a mastigação sempre auxilia no processo digestivo, evitando alguns transtornos/inconvenientes tão frequentes, como a azia, a má digestão, a sonolência após a refeição, etc.
Grande parte dos problemas digestivos de que muitas pessoas se queixam pode ter origem numa mastigação deficiente, engolindo os alimentos inteiros ou em pedaços grandes, o que vai exigir maior esforço do estômago em triturá-los. Qualquer problema no processo digestivo já inerente ao organismo, como uma produção excessiva ou insuficiente de ácido clorídrico (o ácido libertado pelo estômago para a digestão dos alimentos) pode ser agravada por uma mastigação inadequada. Pessoas com problemas digestivos devem preocupar-se ainda mais com a sua mastigação, tornando-a um hábito diário e necessário.
Por não se fazer uma mastigação adequada, deixamos de produzir energia em quantidade suficiente para o nosso dia-a-dia, afectando assim, todo o processo metabólico, o que leva como consequência disto, estados de cansaço, desânimo, ansiedade, medos, queda de cabelo, diminuição da libido, impaciência e retenção hídrica.
Mas não é apenas no processo digestivo que a mastigação é necessária. O controlo sobre a ingestão de alimentos pode ser alterado pela mastigação, de acordo com a frequência da mesma. Uma boa mastigação, ou seja, uma trituração adequada dos alimentos estimula o centro da saciedade, um controlo que temos ao nível do cérebro e que regula a ingestão de alimentos. Quando se mastiga bem os alimentos, a movimentação dos músculos da face, envolvidos neste processo, origina uma resposta mais rápida ao estímulo da saciedade, isto é, a pessoa sente-se saciada com uma menor quantidade de alimentos. Esta é uma razão interessante para se estimular a mastigação, principalmente, em pessoas que precisam de controlar a ingestão de alimentos por causa de um emagrecimento ou de uma manutenção do peso.
A mastigação é um hábito/costume que deve ser enraizado logo na infância. As crianças devem ser estimuladas a mastigar correctamente os alimentos desde o nascimento dos primeiros dentes. Por isso, os alimentos devem ser apenas cozidos e/ou amassados, evitando-se os cremes (sopas passadas), ou os boiões já preparados para os bebés porque não existem pequenos alimentos para a criança mastigar. É importante acompanhar o desenvolvimento da criança, ou seja, evoluir a consistência dos alimentos de acordo com a sua capacidade de mastigação. A excessiva dependência da chucha e do biberão (com o arrastar dos anos) pode vir a reflectir-se em problemas na mastigação dos alimentos, criando hábitos inadequados e problemas na arcada dentária.
É importante relembrar que não é apenas a qualidade dos alimentos e da alimentação que deve ser o centro da atenção, de constante preocupação e interesse, mas também o acto de mastigar. O cuidado com os dentes deve ser constante, assim como com a boca e as gengivas. Qualquer problema/doença que prejudique a mastigação (feridas na boca ou nas gengivas, cáries dentárias, tártaros, aftas, etc) pode interferir, indirectamente, no processo da digestão, uma vez que a trituração adequada dos alimentos fica comprometida. Aquelas pessoas, principalmente as mais idosas, que precisam de próteses dentárias, devem ter especial atenção na colocação das mesmas, uma vez que as perdas de tecido ósseo e de massa muscular, relativas com o avançar da idade, levam a alterações na dimensão das gengivas, o que causa feridas na boca e dificuldade na mastigação dos alimentos.
Por exemplo, durante a refeição podemos apreciar os alimentos, observando as formas e as cores, sentindo o aroma, e só depois o paladar. Saborear a refeição é um momento de prazer. Provavelmente saímos da mesa, mais calmos, leves, bem dispostos para realizarmos qualquer tipo de actividade. Mas, o simples acto de mastigar e respirar com mais serenidade, proporciona uma melhor qualidade de vida.