A Vigorexia é definida como uma preocupação com algum defeito imaginário na aparência física de uma pessoa com aparência e estrutura normal.
História.
Entre os séculos XVII e XIX, a Anorexia Nervosa era denominada Anorexia Histérica, Apepsia Histérica e Compunção Nervosa, tendo diferentes descrições científicas. Naquele período, considerava-se a Anorexia Nervosa como um transtorno que acometia exclusivamente as mulheres.
Em 1939 estabeleceu-se o diagnóstico diferencial entre a Caquexia Hipofisária (uma doença de causa orgânica, na qual os doentes sofriam uma perda de peso severa e acabavam por morrer) e a Anorexia Nervosa.
O aumento da incidência dos Transtornos Alimentares na população feminina está intimamente relacionado com as mudanças nos padrões de beleza e às exigências sociais. Assim, actualmente evidencia-se uma busca incessante pelo emagrecimento, para obter êxito e aceitação social (o indivíduo, principalmente a mulher, deve estar dentro deste padrão estético imposto pela sociedade).
O que são Transtornos Alimentares?
Os Transtornos Alimentares são caracterizados por perturbações no comportamento alimentar, podendo levar ao emagrecimento extremo (caquexia – devido há redução do aporte alimentar) ou à obesidade (devido há ingestão de grandes quantidades de comida), ou ainda a outros problemas físicos.
Os primeiros tipos de Transtorno Alimentar foram a Anorexia e a Bulimia Nervosa, e ambos têm como características comuns: uma intensa preocupação como o peso e o medo excessivo de engordar – uma percepção distorcida da forma corporal, e da auto-avaliação baseada no peso e na forma física.
Mas, hoje em dia há quem se preocupe em demasia com o aumento da musculatura (Vigorexia) e há quem tenha uma obsessão por ter uma alimentação saudável (Ortorexia).
Alguns autores caracterizam os Transtornos Alimentares como síndromes ligados à cultura de determinadas sociedades.
Quais são as causas?
A etiologia dos Transtornos Alimentares está associada principalmente aos aspectos sócio-culturais, embora não se deva rejeitar os factores biológicos, psicológicos e familiares.
Tipos de Transtornos Alimentares.
Como já foi referido a Anorexia e a Bulimia foram os primeiros Transtornos Alimentares a aparecer, entretanto foram reconhecidos outros tais como a Obesidade, Comer compulsivamente, a Ortorexia e a Vigorexia – e é este último que vamos abordar e saber o que é.
Vigorexia – “O Culto do Músculo”.
Ter um corpo perfeito e escultural é o sonho de muitos. Ter músculos, aparentar uma boa figura e sonhar com uma barriga firme e delineada por abdominais pode transformar-se numa obsessão. Esta nova patologia, chamada de Vigorexia ou de Transtorno Dismórfico Muscular está intimamente associada com a auto-estima, a problemas alimentares e por vezes há falta de segurança.
As pessoas que padecem desta patologia têm uma “percepção distorcida do seu corpo”, geralmente, vêem-se mais fracos do que realmente são, e por isso acabam por praticar desporto excessivamente sem pensar nas consequências para o seu organismo.
A Vigorexia é uma patologia que afecta sobretudo os homens, com idades compreendidas entre os 18 e os 35 anos. Mas, nunca esquecendo que a percentagem de pessoas com este transtorno é mais elevada entre aqueles que praticam halteriofilismo ou culturismo de competição ou não.
A Vigorexia foi descrita pela primeira vez pelo norte-americano Harrison Pope, numa procura de identificar indivíduos que trabalhassem o seu corpo de uma forma excessiva. Então, este especialista equiparou esta patologia com a Anorexia Nervosa, porque em ambas há uma preocupação inquietante com o seu aspecto físico.
Vigorexia e Anorexia Nervosa.
Há quem chame a Vigorexia de “Anorexia dos anos 90”, porque é um transtorno mental diferente, e não estritamente alimentar. Os pacientes com esta patologia compartilham com os dismórficos e com os anorécticos, os mesmos pensamentos obsessivos e seguem uns rituais retroactivos diante do espelho, donde vêem a sua imagem corporal distorcida e apresentam uma preocupação obsessiva em relação à sua aparência.
Como se Comportam os Indivíduos com Vigorexia.
Os “vigoréxicos” costumam ser indivíduos pouco maduros, introvertidos, com problemas de integração, baixa auto-estima, reduzida imagem e com algumas dificuldades em integrar-se nas actividades habituais. Este transtorno pode estar associado a problemas de ansiedade, de depressão e de obsessão, assim como de uma perturbação das suas relações sociais e quotidianas.
O seu ritual diário consiste em pesar e contemplar-se constantemente ao espelho várias vezes ao dia. Dedicam muitas horas à prática de musculação e têm uma alimentação estritamente hiperproteica para puder ganhar mais massa muscular.
As características que se seguem demonstram melhor esses comportamentos:
| Relação obsessiva com o peso e a balança. | Obsessão pela musculatura. |
| Dieta baixa em gorduras e ricas em proteínas e hidratos de carbono. | Dietas hipercalóricas (de elevadas calorias). |
| Uso de suplementos alimentares, hormonais e anabolizantes. | Comparações com outros indivíduos do ginásio. |
Viver no Ginásio.
Quem padece com esta patologia só anseia por uma imagem perfeita. Regra geral, o indivíduo não consegue suportar a ideia de passar um só dia sem frequentar o ginásio. A ideia de aumentar a sua musculatura a curto prazo, tendo como objectivo principal o culto do corpo e o puro prazer de sentir-se bem consigo próprio, acaba por não ter o mesmo rendimento que a maioria dos desportistas, cujo o objectivo a alcançar é a médio ou a longo prazo.
Esta obsessão pelo corpo provoca nos indivíduos um desinteresse pela sua vida quotidiana, do seu papel na sociedade, vivem somente para eles, despreocupam-se de tudo desde a família até aos estudos ou ao trabalho. Em suma, o seu comportamento varia sem que, aparentemente estes “narcisistas” estejam conscientes da sua nova situação.
Alimentação Desequilibrada e
Anabolizantes.
A busca por um corpo perfeito leva-lhes muitas vezes a alterar significativamente a forma de se alimentar e começam a dar excessiva importância aos alimentos ricos em proteínas ou aos hidratos de carbono, em muitos casos artificiais. Esta nova forma de alimentar provocam-lhes transtornos metabólicos importantes.
Os problemas surgem ou agravam-se quando estes começam a recorrer a substâncias artificiais para melhorar a sua performance durante o treino. Os esteróides e os anabolizantes favorecem a formação de massa muscular, contudo os efeitos secundários são bastante nocivos. Os “vigoréxicos” têm mais probabilidades de apresentar algumas patologias como doenças cardiovasculares, alterações hepáticas, disfunção eréctil, diminuição do tamanho dos testículos e ter uma maior propensão ao cancro da próstata.
Mas esta patologia para além de causar problemas físicos, acarreta problemas estéticos como a desproporção entre o corpo e a cabeça, problemas ósseos e articulares devido ao excesso de peso (referente ao peso dos músculos), falta de agilidade e flexibilidade, o encurtamento dos músculos e tendões, entre outros.
Tratamento da Vigorexia.
Todo o desportista deve ter um controlo sobre a actividade física que pratica e deve ter um plano de treino individualizado (que vai ao encontro das suas necessidades) realizado por um profissional especializado e competente. Quem pratica exercício de forma prudente e tem como único objectivo cuidar da sua saúde, dificilmente pode vir a sofrer desta patologia.
Quem deseja aparentar um corpo definido e musculoso, não implica necessariamente que essa pessoa padeça com algum transtorno psicológico. Mas deve-se estar sempre atento, porque as probabilidades de aparecer esta patologia nestes indivíduos, serão maiores. Assim, as pessoas que sofrem de Vigorexia, devem ter um controlo das suas actividades desportivas.
O tratamento deve ser multidisciplinar conjugando uma equipa de profissionais de saúde, e procurando combinar a farmacologia (vulgarmente, são recomendados anti depressivos) com terapias cognitivas e comportamentais.
Se bem que existam estudos que comprovam a existência de transtornos pelos níveis alterados de algumas hormonas e de alguns neurotransmissores do sistema nervoso central, como é o caso da serotonina, os principais factores desencadeantes da Vigorexia são do tipo cultural, social e educacional. Factores a que todas as pessoas estão expostas continuamente. Devido a isto, o tratamento destes indivíduos deve focalizar-se na modificação da conduta e da perspectiva que têm sobre o seu corpo.
Toda a família e os amigos cumprem um papel fundamental e muito importante na sua recuperação. Estes devem entusiasmar o doente a divertir-se, a viajar, a procurar novas formas de lazer e devem diminuir o entusiasmo e a ansiedade nos seus treinos diários de musculação.
Como Detectar a Vigorexia.
O descontentamento com o próprio corpo ou de algumas partes do mesmo é uma obsessão por parte de algumas pessoas. Não se deve confundi-lo com transtornos alimentares como a anorexia ou a bulimia, que requer tratamentos muito mais complexos.
Eis algumas evidências da Vigorexia:
- Como já foi referido, as pessoas que padecem desta patologia estão totalmente obcecadas pela sua aparência física.
- As suas vidas vivem em função da actividade física, do ginásio e da prática de musculação.
- Incluem unicamente na sua alimentação, alimentos que potenciam o aumento da massa muscular como são as proteínas e os hidratos de carbono.
- Tendem a consumir todo o tipo de suplementos, desde os alimentares até aos anabolizantes, passando pelo uso de hormonas e de esteróides.
- Mantêm uma relação de dependência absoluta com o seu peso. Chegam a pesar-se numerosas vezes ao dia e estão obstinados em aumentar o peso.
- Apresentam reduzidas exigências sociais e pessoais. Como também se distanciam dos seus amigos e da família.
- Chegam a reduzir as suas actividades diárias para poupar energia para as actividades que são exigidas no ginásio.
- Sentem-se envergonhados, se por ventura têm que se despir – isto porque não lhes agrada a sua aparência física.
- Geralmente, são pessoas solitárias e introvertidas.
Opinião do Especialista: O ideal não é o padrão imposto pelas revistas de beleza e pelos modelos publicitários, o ideal é estar contente consigo mesmo e aceitar-se como é. Estes complexos podem ser agravados por uma obsessão de beleza física e de perfeição inimagináveis, os quais se convertem em autênticas doenças emocionais, acompanhadas de crises de ansiedade, depressão, fobias e atitudes compulsivas. Se fizer actividade física, faça mas com moderação.
